Como evitar alergias na introdução alimentar?
Alergias. Como a introdução alimentar é um período de muitas novidades e experimentações, há também muitas preocupações envolvidas com relação à saúde, desenvolvimento e adaptação do bebê. Uma das maiores questões é o receio dos pais de que a criança desenvolva alguma alergia alimentar durante esse período.
Alergias deste tipo atingem cerca de 5% das crianças brasileiras. Mas afinal, como evitar que isso aconteça? Confira algumas dicas importantes no artigo a seguir.
Evitar a exposição a alérgenos não é o caminho
Um relatório elaborado pela Associação Americana de Pediatria (AAP) sobre alergias alimentares em crianças traz algumas orientações para pais e profissionais da área. Uma delas envolve a introdução do amendoim (um dos alimentos que mais provocam reações do sistema imune) na dieta dos pequenos ainda nos primeiros meses de vida, como forma de reduzir o risco de alergia a esse alimento.
Supõe-se que a exposição ao ovo também possa ter efeito semelhante, embora ainda não tenham estudos o suficiente para comprovar o benefício nesse caso específico. Por outro lado, atrasar a introdução desses e outros alérgenos (como leite, castanhas e frutos do mar), não garante nenhum benefício para a prevenção de alergias alimentares.
O mesmo vale para a decisão de tirar esses itens da dieta da mãe durante a gravidez ou amamentação, já que a exclusão de alimentos por tempo prolongado pode na verdade aumentar o risco de alergia.
Essa questão é um consenso também entre a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).
Ambas concordam com o relatório produzido pela AAP, e orientam gestantes e lactentes a não fazer nenhuma restrição alimentar por conta própria, pois isso poderia causar maiores riscos de alergia ao bebê.
Seguindo essa linha de raciocínio, é fácil compreender porque a diversidade do que é ingerido pela criança desde a introdução alimentar pode ser uma grande aliada contra o surgimento de alergias. Ela tem efeito protetor sobre a sensibilidade a substâncias.
Ainda assim, é importante pontuar que essa condição depende de outros fatores para acontecer, e por isso nem sempre a diversidade alimentar será capaz de impedir o aparecimento de alergias alimentares.
Especialistas da área indicam que alimentos como o ovo, amendoim, leite de vaca, castanhas e frutos do mar devem ser apresentados à criança junto de outros alimentos, como arroz, frutas e vegetais.
A SBP e a Organização Mundial da Saúde (OMS) orientam que a introdução alimentar aconteça a partir dos seis meses de idade. Até então, a dieta do bebê deve ser baseada exclusivamente no leite materno, que fornece os anticorpos necessários ao seu sistema imunológico, ajudando a fortalecê-lo e a prevenir o aparecimento de sintomas de alergia.
Conforme mencionado anteriormente, há outros fatores além dos hábitos alimentares do bebê que podem estar envolvidos no surgimento de alergias. Continue a leitura para compreender quais são.
sQuais os fatores envolvidos na alergias alimentares?
O conhecimento científico acerca do que exatamente leva ao desenvolvimento das alergias alimentares ainda é limitado. Algumas hipóteses exploradas por pesquisadores envolvem a presença de determinados genes e condições específicas no estômago e no intestino.
Estudos procuram compreender o papel de alguns genes nas respostas alérgicas aos alimentos. Sua atuação pode codificar moléculas com uma função no sistema imunológico ou com uma função na quebra de proteínas alimentares no intestino.
O fato é que os alimentos precisam ser digeridos em pequenas moléculas antes que nosso corpo possa absorvê-las. Quando o alimento não é decomposto adequadamente, os alérgenos alimentares podem fazer com que o sistema imunológico do intestino de alguma forma promova sua alergenicidade.
Indivíduos com acidez estomacal reduzida, por exemplo (o que pode acontecer devido a tratamentos com antiácidos), podem estar predispostos a se tornar alérgicos aos alimentos, ou podem ter intensificados os sintomas de uma alergia alimentar pré-existente.
Se tratando dos bebês, é possível que sejam mais suscetíveis ao desenvolvimento de alergias alimentares por ainda terem intestinos imaturos. Além disso, alguns fatores podem aumentar o risco de alergias, como a questão do componente genético. Famílias com membros alérgicos têm maior probabilidade de que o bebê também desenvolva alergia.
Vale pontuar que alergia é uma condição diferente da intolerância alimentar. Quer entender melhor? Prossiga para o próximo tópico.
Alergias e intolerância alimentar: qual a diferença?
Quando em contato com determinados alimentos considerados alérgenos, algumas pessoas podem reagir com o que os médicos chamam de reação de hipersensibilidade. A hipersensibilidade alimentar é dividida em dois tipos: alergia alimentar e hipersensibilidade alimentar não alérgica (também chamada de intolerância alimentar).
A hipersensibilidade alimentar é caracterizada por alguns sintomas:
- Aparece quando uma pessoa come determinado alimento
- Desaparece ou diminui quando uma pessoa evita o alimento
- Reaparecem quando a pessoa reintroduz o alimento em questão
A principal diferença entre a alergia e a intolerância é o tipo de resposta do organismo quando entra em contato com o alimento. Na alergia, ocorre uma reação anormal do sistema imunológico, que detecta o alimento como um corpo estranho e produz anticorpos.
Já a intolerância é a dificuldade do corpo em ingerir ou absorver algum nutriente, geralmente devido à falta de alguma enzima, que são responsáveis pela digestão e processamento dos alimentos.
Os sintomas mais comuns da intolerância são diarréia, náuseas e gases. Os sintomas da alergia, por sua vez, são mais agressivos, e incluem erupções na pele, coceira, inchaço (inclusive de mucosas), dificuldade de respirar, diarréia e sangramento intestinal. Nesses casos, não hesite em procurar ajuda médica.
Como prevenir alergias alimentares?
Pessoas com intestino saudável, com uma microbiota intestinal equilibrada, têm menores chances de desenvolver alergias alimentares. Se tratando da saúde dos bebês, essa proteção é iniciada ainda na gestação.
É indicado que a mãe mantenha uma alimentação diversificada, comendo tudo o que há de mais saudável e nutritivo, sem excluir determinados grupos de alimentos (a menos que seja por uma recomendação médica específica).
Quando a mãe ingere determinado alimento, suas proteínas são transferidas também para o bebê. Isso ajuda o organismo do pequeno a reconhecer e entender que elas não são nocivas, o que pode ajudar a prevenir alergias.
Sendo assim, conclui-se que é a exposição aos alimentos que ajuda a prevenir as alergias. Evitar o contato com determinados itens apenas aumenta as possibilidades de o organismo estranhar as proteínas que os compõem.
Vale o mesmo para bebês que estão passando pela fase de introdução alimentar. Dos seis aos 10 meses de vida, há um período de janela imunológica que permite que o organismo da criança reconheça os alimentos. Por isso, é muito importante variar na alimentação do bebê durante esse período.
A criança deve ser apresentada a alimentos potencialmente alergênicos. Dentro da alimentação que você já proporciona ao bebê, ofereça pequenos pedaços de peixe ou ovo, por exemplo.
Para evitar a resistência do bebê em comer novos alimentos, vale caprichar na apresentação, já que é importante que ela experimente a maior variedade possível. Nesses casos, pratinhos diferentes e outros utensílios coloridos, como colheres e copinhos, ajudam muito, pois atraem a atenção e o interesse da criança.
Sempre que oferecer um novo alimento que o bebê ainda não conhece, observe se ele apresenta algum sintoma após ingeri-lo. No início da introdução alimentar, vale testar um alimento de cada vez, para em caso de reação saber exatamente o que foi que a causou.
Se tudo ocorrer bem depois desse primeiro contato, é importante manter a exposição para a manutenção da tolerância, principalmente no caso de alimentos alérgenos. As crianças devem comê-los regularmente, porém é necessário observar o comportamento delas.
Os alérgenos mais comuns são leite de vaca, soja, amendoim, nozes, ovos, trigo, peixe, mariscos e gergelim. Ao apresentá-los ao bebê, é preciso ficar atento a coceiras, inchaços e regiões avermelhadas, seja nos braços, mãos ou boca.
As reações mais graves acontecem, geralmente, logo após ingerir o alimento ou num intervalo de até duas horas. As menos graves podem ocorrer algumas horas ou até duas semanas depois da ingestão do alimento, o que as tornam mais difíceis de diagnosticar. Quando a reação é mais grave, a criança pode apresentar chiado no peito, inchaço na língua e na garganta, palidez e queda súbita na pressão arterial.
Diante de qualquer dificuldade na hora da alimentação, é indicado que os pais procurem o pediatra.