Pode começar a introdução alimentar com 3 meses?
Introdução alimentar é o termo utilizado para se referir à fase na qual a alimentação dos bebês passa a incluir outros alimentos além do leite materno. É uma fase de adaptação muito importante na vida da criança, na qual ela começa a ter contato com novos sabores e texturas, e uma nova forma de funcionamento do corpo.
Para quem é pai ou mãe, é comum surgir a dúvida sobre qual o melhor momento para começar a introdução alimentar. Confira a resposta para essa e outras dúvidas sobre o assunto no artigo a seguir.
Por que o aleitamento materno é tão importante?
A principal recomendação estabelecida atualmente (com respaldo de estudos e órgãos nacionais e internacionais) é que a introdução alimentar ocorra em torno dos 6 meses de vida.
Até essa idade, o aleitamento materno deve ser exclusivo e não há necessidade de nenhum outro alimento, nem mesmo água, já que o leite da mãe supre também as necessidades de hidratação do bebê.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o aleitamento materno seja mantido pelo menos durante os dois primeiros anos de vida do bebê. Nos primeiros seis meses, apenas o leite é suficiente, já que se trata de uma importante fonte de carboidrato, proteína, gorduras boas, vitaminas e minerais.
Além disso, o leite materno também é riquíssimo em anticorpos e bactérias probióticas, que contribuem tanto no desenvolvimento da imunidade do bebê, quanto na formação da sua microbiota intestinal.
É por essas razões que a amamentação é encorajada e incentivada até quando for possível para a mãe. Se possível, deve ser oferecido sob livre demanda, ou seja, quando o bebê quiser.
A fórmula infantil também oferece os nutrientes necessários para o bebê quando o aleitamento materno precisa, por alguma razão, ser interrompido antes dos 6 meses. Geralmente é indicado quando a mãe não consegue amamentar ou quando está realizando algum tratamento onde a amamentação não é indicada.
Nesse caso, o bebê deve ingerir 700 ml de água (quantidade que deve ser distribuída entre a água da fórmula infantil e água pura) ao longo do dia, de modo a evitar prisão de ventre e sobrecarga dos rins.
Não há, no entanto, um consenso universal a respeito de quando deve ser iniciada a introdução alimentar. Confira mais detalhes a seguir.
Qual o melhor momento para realizar a introdução alimentar?
Enquanto a OMS e a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam que a introdução alimentar seja iniciada por volta dos 6 meses de idade, alguns países europeus e outros como os Estados Unidos e Canadá tendem a iniciar a introdução alimentar ainda antes disso.
Segundo o Comitê Europeu de Nutrição, Hepatologia e Gastroenterologia Pediátrica (ESPGHAN), a orientação é que a introdução alimentar não deve acontecer antes de 17 semanas, e também não deve ser postergada para além da 26ª semana de vida.
Portanto, a introdução alimentar deve ocorrer no ritmo de cada família, o que pode ser difícil quando a mãe precisa voltar a trabalhar e deixar o bebê em um berçário. Por isso, em alguns berçários há a presença de nutricionista, que auxilia nessa introdução, conforme a preferencia de cada família, saiba mais aqui
Portanto, respondendo a pergunta que nos trouxe até aqui: a introdução alimentar com 3 meses é considerada muito precoce, o que não garante nenhum benefício ao bebê, mas que pode, no entanto, apresentar alguns riscos. Saiba mais no próximo tópico.
Quais os riscos da introdução alimentar precoce?
No Brasil, profissionais e pesquisadores da área da saúde infantil defendem que não há evidências o suficiente apontando para vantagens na introdução precoce (realizada antes dos seis meses) de outros alimentos além do leite materno na dieta do bebê. Por outro lado, são diversos os relatos que indicam que essa prática pode ser prejudicial.
Estudos mostram que não há diferenças no desenvolvimento entre bebês amamentados exclusivamente até os 6 meses e bebês com introdução alimentar aos 3 ou 4 meses.
Pelo contrário, há indícios que apontam para uma desvantagem quando a prática é iniciada muito cedo: crianças com introdução alimentar precoce apresentam maiores riscos de desmame precoce e do desenvolvimento de doenças gastrointestinais, como diarreia, para a qual o aleitamento materno é um fator protetor de enorme importância.
Uma pesquisa publicada em 2018 no periódico científico estadunidense JAMA Pediatrics indicou um ponto positivo nesse sentido. Segundo o estudo, crianças de três meses de idade que recebem alimentos sólidos (além do leite materno) dormem melhor.
O trabalho foi conduzido por pesquisadores das universidades inglesas Saint George e King’s College, e mostrou uma redução de 50% na incidência de problemas de sono dessas crianças, incluindo choro e irritabilidade. As diferenças nos padrões de sono se tornaram ainda mais evidentes a partir dos seis meses de idade.
Ainda que esse aspecto possa parecer muito atrativo (principalmente para os pais de crianças com dificuldades em relação ao sono), é interessante avaliar os prós e contras envolvidos na introdução alimentar precoce.
Além dos problemas intestinais citados, essa prática, quando iniciada antes do bebê completar 6 meses de vida, pode favorecer o surgimento de um futuro quadro de obesidade, além de interferir na pressão arterial, metabolismo do colesterol, resistência insulínica, aterosclerose, saúde óssea e imunológica.
Portanto, a introdução alimentar precoce é considerada uma desvantagem para a saúde intestinal do bebê, principalmente devido ao risco de contaminação e exposição de alimentos. Além disso, é preciso considerar as limitações motoras e cognitivas de um bebê de 3 meses: nessa idade, o bebê ainda não consegue se sentar sozinho sem apoio.
Apesar de estar na fase na qual começa a levar objetos à boca, tudo é muito novo e a criança ainda não possui firmeza o suficiente em seus movimentos.
Continue a leitura para saber sobre as principais particularidades que podem interferir em alguns casos.
A orientação pode mudar de acordo com o caso?
É claro que outros fatores devem ser considerados, como as condições de saúde da criança e a realidade de cada família. Por isso, a introdução alimentar pode ser discutida individualmente com o pediatra do bebê, dentro das possibilidades vividas pela mãe e pela família.
Por exemplo: muitas vezes, a introdução alimentar é considerada antes dos 6 meses em função da necessidade da mãe retornar ao trabalho após o período de licença-maternidade.
Nesses casos, vale à pena considerar e explorar outras possibilidades, como a de ordenhar leite materno para oferecer ao bebê quando a mãe não estiver presente. O leite pode ser oferecido no copinho aberto, copo de transição, colher dosadora, copo 360 ou até mesmo na mamadeira. São diversas as opções adaptadas à realidade atual de muitas mães.
Em geral, no entanto, não há qualquer recomendação formal que aconselhe introduzir alimentos antes dos 6 meses se o bebê está em aleitamento materno, com bom desenvolvimento e ganho de peso adequado.
Qualquer outro alimento introduzido antes dessa idade teria valor nutricional inferior ao do leite materno, ou seja, não traria maiores vantagens. O mesmo vale para bebês que fazem uso de fórmula infantil.
Por essas razões, o aleitamento materno exclusivo até os seis meses é de fato o mais recomendado. Vale lembrar que estamos falando da introdução de sólidos e o bebê precisa ter maturidade (intestinal, neurológica e motora) para tal.
A partir do 6º mês, é seguro que a introdução alimentar seja iniciada, ministrada juntamente com a amamentação. Nessa fase, o bebê começa a sentar sem apoio, a pegar os objetos e levá-los à boca, a ter movimentos mastigatórios e deglutição mais coordenados.
Isso acontece por volta dos 6 meses de idade, raramente antes dos 5 meses.
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